Perda dentária, saúde bucal e qualidade de vida em pacientes oncológicos no sul de Minas Gerais
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Resumo
Pacientes com câncer apresentam risco aumentado de complicações bucais durante e após o tratamento oncológico. Este estudo transversal objetivou avaliar: 1) a perda dentária, analisada de acordo com o número e a posição dos dentes perdidos, e fatores associados; 2) a qualidade de vida relacionada à saúde bucal (QVRSB) e as condições de saúde bucal relacionadas em pacientes oncológicos. Foram incluídos 441 adultos frequentadores de uma associação voluntária de apoio a pessoas em tratamento oncológico. No estudo 1, o desfecho foi avaliado por meio de avaliação clínica da perda dentária, dividindo-se os participantes em três grupos: (i) dentição funcional (DF) [presença de 20 ou mais dentes] sem perda anterior; (ii) DF com perda anterior; (iii) sem DF. Variáveis independentes incluíram condições socioeconômicas, hábitos relacionados à saúde, saúde geral e relacionada ao câncer, saúde bucal e cuidados odontológicos. Modelos de regressão logística multinomial bivariada e múltipla foram utilizados na análise dos dados, sendo o grupo de referência o (i). Os resultados mostraram que 27,29% dos participantes apresentam DF sem perdas anteriores; 6,04% possuem DF com perdas anteriores; e 66,67% não têm DF. Apresentaram maiores chances de possuir DF com perda anterior aqueles que: possuem renda menor que 1 salário mínimo (OR: 0,04; IC95%: 0,01-0,80) e os que não manifestaram alteração de sabor pós tratamento oncológico (OR: 0,31; IC95%: 0,10-0,90). Apresentaram maiores chances de ausência de DF os indivíduos: mais velhos (OR: 1,06; IC95%: 1,02-1,10), menos escolarizados (OR: 0,15; IC95%: 0,02-0,81), os que usam prótese (OR: 63,97; IC95%: 20,22-202,22), sem bolsa periodontal (OR: 0,17; IC95%: 0,07-0,43), e os que escovam os dentes menos de três vezes ao dia (OR: 0,22; IC95%: 0,09-0,53). No estudo 2, o desfecho foi a QVRSB avaliada por meio do questionário QLQ-OH15. Foram realizadas análises bivariadas e múltipla da associação entre as condições de saúde bucal e a dimensão QVRSB do QLQ-OH15 por meio de modelos lineares generalizados. Para a escala de QVRSB, o escore médio foi de 82,09. Associaram-se a piores escores de QVRSB, a autoavaliação de saúde bucal ruim (p<0,001), a presença de boca seca (p<0,001), trismo (p=0,002), feridas na boca (p<0,001), àreas dormentes (p<0,001), diminuição na ingestão de alimentos (p<0,001), alteração no sabor dos alimentos (p<0,001), dificuldade de engolir (p <0,001) e dificuldades na fala (p<0,001). A partir dos resultados deste estudo, pode perceber-se que a perda dentária apresentou prevalência expressiva na população do estudo, sendo que entre indivíduos com maior número de dentes, as perdas de elementos anteriores foram significativas. Condições socioeconômicas e de saúde bucal associaram-se fortemente à ausência de dentição funcional. Além disso, embora a avaliação da QVRSB esteja em bons patamares, os sintomas relacionados apresentam significativa importância, sobretudo a saliva pegajosa e aqueles relativos às próteses. Autoavaliação de saúde bucal ruim, boca seca, trismo, feridas na boca, àreas dormentes, diminuição na ingestão e alteração no sabor dos alimentos, dificuldade de engolir e na fala associaram-se a pior QVRSB. São necessárias ações de atenção à saúde bucal das pessoas em tratamento oncológico, de forma a assegurar a prevenção de agravos, a atenção às sequelas e limitações decorrentes destes, propiciando maior bem-estar e qualidade de vida a esses pacientes.