Eficácia da estimulação elétrica transcraniana associada a exercícios físicos nos parâmetros de dor, na variabilidade cardíaca e na atividade elétrica muscular para lombalgia crônica inespecífica: ensaio clínico randomizado

Contexto: A dor lombar crônica inespecífica é uma condição incapacitante que afeta globalmente milhões de pessoas e é a principal causa de incapacidade em diversos países. A relevância do estudo reside na necessidade de investigar intervenções eficazes no manejo da dor uma vez que as opções terapêuticas atuais ainda apresentam limitações. A combinação de estimulação elétrica transcraniana por corrente contínua (tDCS) com exercícios físicos vem com uma proposta de estratégia inovadora. Objetivo: Analisar a eficácia da tDCS associada a exercícios físicos na intensidade da dor, no desempenho funcional, na variabilidade da frequência cardíaca e na atividade elétrica muscular em pessoas com lombalgia crônica inespecífica. Métodos: O estudo caracteriza-se como um ensaio clínico randomizado duplo-cego, com uma amostra composta por 31 indivíduos com lombalgia crônica inespecífica. Os participantes foram distribuídos aleatoriamente em dois grupos: grupo placebo (n=16) e grupo experimental (n=15). A intensidade da dor foi avaliada por meio da Escala de Dor Crônica Graduada (EDCG) e da Escala Visual Analógica (EVA). O desempenho funcional foi mensurado pelo Questionário Rolland Morris (RMDQ), e também foram analisadas a variabilidade da frequência cardíaca (VFC) e a atividade elétrica muscular. O protocolo experimental consistiu em exercícios físicos combinados à tDCS, totalizando 20 atendimentos, sendo os 10 primeiros consecutivos e os 10 seguintes alternados. O grupo placebo recebeu a intervenção com o aparelho desligado. As coletas de dados foram realizadas nos momentos 0 (inicial), 1 (após a 10ª sessão) e 2 (após a 20ª sessão), com exceção da EVA, aplicada ao final de cada atendimento. Resultados: A maioria das questões do EDCG apresentou efeito significativo ao longo do tempo em ambos os grupos (p<0,05), sem efeito de interação ou diferença entre grupos (p>0,05). Para o desfecho EVA, observou-se redução da dor ao longo do tempo nos dois grupos (p<0,05), sem diferença significativa entre grupos (p=0,75) ou interação (p=0,67). No RMDQ, houve um efeito significativo ao longo do tempo nos dois grupos, com redução expressiva (p<0,001), e um efeito de interação significativo no momento 0 (p=0,03). Para o desfecho VFC, a variável R-R apresentou aumento significativo ao longo do tempo no grupo experimental (p=0,02), com diferença entre grupos, favorável ao grupo experimental (p=0,01). A variável pNN50 demonstrou redução significativa ao longo do tempo no grupo experimental (p=0,03), com efeito de interação também significativo (p=0,02). A variável LF apresentou redução significativa na interação (p=0,02), mais evidente no grupo experimental. A variável SD2 apresentou redução significativa ao longo do tempo em ambos os grupos (p=0,02). Conclusão: A tDCS associada a exercícios físicos não demonstrou eficácia na comparação intergrupos para a intensidade da dor e interferência da dor nas atividades (EDCG e EVA) nem para o desempenho funcional (RMDQ). No entanto, ambas as intervenções apresentaram efeitos positivos na redução da dor, melhora na interferência da dor nas atividades, no aumento do desempenho funcional (RMDQ) e em algumas variáveis da VFC ao longo do tempo (efeito intragrupos). Destaca-se que a variável R-R da VFC obteve eficácia na comparação intergrupos, apresentando aumento significativo no grupo experimental. A análise eletromiográfica demonstrou efeito em ambos os grupos, com melhora no tempo de contração muscular (maior resistência muscular) ao longo da intervenção. O grupo exercício associado à tDCS desencadeou efeito na taxa de fadiga, com redução nos valores para os músculos abdominais, indicando possível efeito adjuvante da neuromodulação. Por outro lado, as variáveis RMSn, frequência mediana e a taxa de fadiga dos extensores lombares mantiveram valores semelhantes. O grupo experimental apresentou vantagem no baseline para o músculo abdominal esquerdo.