Covid-19: aspectos da doença, do tratamento medicamentoso e seu manejo no SUS
Data
Autores
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Editor
Resumo
Ainda existem lacunas na literatura em relação às variáveis que interferem na prevenção, no controle e no tratamento da doença provocada pelo coronavírus 2019 (COVID-19), bem como na resolubilidade da rede pública de saúde no manejo da doença. Dessa forma, o objetivo do estudo foi analisar os aspectos epidemiológicos e clínicos da COVID-19 em Alfenas-MG, a relação do tratamento medicamentoso com a morbimortalidade e seu manejo no Sistema Único de Saúde (SUS). A pesquisa foi organizada em cinco etapas (A, B, C, D e E). Na etapa A foi realizado um estudo transversal com casos de COVID-19, a fim de caracterizar os acometidos pela doença e identificar os preditores de hospitalização. Na etapa B foi realizado um estudo transversal com dados dos prontuários de pacientes com COVID-19 internados no hospital de referência do município, para identificar os determinantes da morbimortalidade. Na etapa C foi realizado um estudo descritivo com os pacientes inclusos na etapa B que tiveram alta hospitalar, a fim de compreender o itinerário terapêutico e a resolubilidade da rede pública de saúde. Na etapa D foi realizado um estudo descritivo com as prescrições farmacológicas dos pacientes da etapa B, visando analisar os custos diretos da farmacoterapia aplicada à COVID-19. Na etapa E foi realizada uma revisão sistemática com o intuito de avaliar a efetividade e a segurança do sotrovimabe no tratamento da COVID-19. Os dados foram analisados por estatística descritiva e inferencial, com nível de significância de 5%. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UNIFAL-MG. Os resultados da etapa A mostraram que a COVID-19 acometeu principalmente pessoas do sexo feminino (55%), maiores de 19 a 59 anos (67,8%), solteiros(as) (48,6%), raça/cor branca (60,7%), com ensino médio completo (35%) e renda de até três salários mínimos (61,4%). Os determinantes da internação hospitalar incluíram: raça/cor branca, maior faixa etária, menor renda mensal e nível de escolaridade (p<0,001); ocorrência de doenças crônicas, tabagismo e uso de medicamentos (P<0,05). Na etapa B, observou-se associação entre a mortalidade hospitalar e a permanência de alterações nos exames de ácido lático, dímero-D e proteína C reativa (P<0,05). Ainda, medicamentos como enoxaparina, dexametasona, ivermectina, acetilcisteína, cloroquina e claritromicina foram correlacionados com o óbito (P<0,05). Na etapa C, 75,8% dos entrevistados procurou ajuda médica entre 1 a 5 dias de sintomas, sendo que o Pronto Socorro hospitalar foi primeiro local de busca por atendimento da maioria (85,5%). Em adição, observou-se condutas inadequadas quanto ao seguimento dos protocolos e fluxogramas de manejo da COVID-19. A etapa D mostrou que o custo médio diário do tratamento farmacológico por paciente foi cerca de 44% do valor previsto pelo SUS para o manejo hospitalar da COVID-19. Os antibacterianos e anticoagulantes consumiram a maior parte (68%) dos gastos com terapias medicamentosas. Na revisão sistemática (etapa E) não se verificou diferença significativa entre os grupos sotrovimabe e controle quanto ao uso de ventilação mecânica invasiva e à mortalidade. Entretanto, observou-se que o sotrovimabe pode ser efetivo na redução das taxas de hospitalização em comparação ao controle (IV = -1,57; IC 95%: -2,41-0,73; p=0,99). O trabalho mostrou que os diferentes desfechos da COVID-19 podem ser influenciados por aspectos sociais, econômicos, educacionais, fatores clínicos e hábitos de vida. Todavia, intervenções terapêuticas também impactaram hospitalizações e óbitos. As evidências do uso do sotrovimabe refutaram, em parte, a hipótese de que o medicamento possa trazer benefícios no tratamento da doença em relação ao controle. Para mais, a visualização de falhas no manejo suscita a possibilidade de inferência de outros danos à saúde, além de gastos desnecessários, reforçando a necessidade de otimizar ações preventivas e de manejo da COVID19.