Impacto da exposição gestacional a xenobióticos no desenvolvimento fetal/infantil – revisões sistemáticas
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Resumo
Este estudo realizou três revisões sistemáticas independentes para avaliar os efeitos da exposição gestacional a chumbo (Pb), cafeína e triclosan (TCS) sobre desfechos neurocomportamentais na infância. As revisões foram conduzidas seguindo rigorosos protocolos metodológicos registrados no PROSPERO (CRD42022296750, CRD42023421164, CRD42024526426). Para a análise do Pb, foram incluídos 21 estudos observacionais (16 coortes prospectivas, 2 caso-controle, 1 caso-controle aninhado, 1 coorte e 1 longitudinal), identificados através de busca abrangente nas bases MEDLINE, Cochrane Library, EMBASE, Scopus, Web of Science e LILACS. Dois revisores independentes realizaram a seleção dos estudos, extração de dados e avaliação de qualidade utilizando a ferramenta Downs & Black. A certeza das evidências foi classificada como muito baixa pelo sistema GRADE, devido à heterogeneidade dos estudos e limitações metodológicas. Os resultados indicaram possíveis associações entre exposição ao Pb e déficits neurocomportamentais ou abortos espontâneos, embora sem significância estatística consistente. Notavelmente, nenhum estudo avaliou a associação com mortalidade infantil. Para a cafeína, foram incluídos 14 estudos observacionais com amostras variando de 173 a 64.189 gestantes. O consumo médio de cafeína durante a gestação variou de 0 a 1000 mg/dia, com picos no segundo trimestre. Sete estudos relataram associações positivas entre exposição pré-natal e transtornos neurocomportamentais, como TDAH e problemas de comportamento, enquanto um estudo encontrou efeitos benéficos em habilidades sociais e seis não detectaram associações significativas. A avaliação de risco de viés utilizando a ferramenta ROBINS-I classificou a maioria dos estudos como tendo viés moderado, e a certeza das evidências foi considerada muito baixa pelo sistema GRADE. No caso do TCS, a revisão sistemática incluiu 14 estudos de coorte, com tamanhos amostrais variando de 193 a 794 pares de mães e crianças. As concentrações medianas de TCS durante a gestação variaram de 0,40 a 28,2 ng/mL. Quatro estudos sugeriram associações com problemas neurocomportamentais, incluindo externalização, déficit de atenção e dificuldades de comunicação, enquanto oito estudos não encontraram efeitos significativos. A avaliação metodológica revelou limitações importantes na mensuração da exposição e controle de fatores de confusão. Os resultados das três revisões sistemáticas destacam desafios metodológicos comuns, incluindo heterogeneidade nos desenhos dos estudos, variabilidade na avaliação da exposição e presença de múltiplos fatores de confusão não controlados. Embora alguns estudos tenham sugerido associações potenciais, a baixa certeza das evidências impede conclusões definitivas sobre os efeitos dessas exposições. Os achados reforçam a necessidade de estudos prospectivos bem desenhados, com tamanhos amostrais adequados, métodos padronizados para avaliação de exposição e controle rigoroso de fatores de confusão. Além disso, futuras pesquisas deveriam investigar os mecanismos biológicos subjacentes às potenciais associações observadas. Estas revisões contribuem para o campo da saúde ambiental perinatal ao sintetizar criticamente as evidências disponíveis e identificar lacunas importantes no conhecimento, destacando a relevância de políticas públicas preventivas e monitoramento contínuo dessas exposições durante a gestação.
