O que revelam os estudos sobre argumentação no ensino de química: uma revisão sistemática

Abstract

Pesquisas que incentivam a participação dos alunos em processos educativos voltados ao desenvolvimento de habilidades argumentativas, com o objetivo de promover o pensamento crítico, têm ganhado destaque no campo da Educação Química. Nesse contexto, a inserção da argumentação no ensino de Química tem atraído a atenção de diversos pesquisadores, resultando em uma produção acadêmica significativa nas últimas décadas. Esse crescimento evidencia a necessidade de estudos que organizem e sistematizem os conhecimentos já produzidos. O presente estudo tem como objetivo mapear e sistematizar a produção acadêmica sobre a argumentação no Ensino de Química, no período de 2004 a 2024. A investigação foi conduzida por meio de uma Revisão Sistemática, seguindo o protocolo PRISMA 2020, com foco na análise do impacto da argumentação na educação básica, especialmente na busca de soluções para problemas socioeconômicos. Foram consultadas nove bases de dados (SCOPUS, Web of Science, ERIC, Scielo, Google Acadêmico, BDTD, Dialnet, Periódicos Capes e Ibict) e os anais de seis eventos acadêmicos relevantes (Encontro Nacional de Ensino de Química, Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências, Encontros de Debate sobre o Ensino de Química, Encontro Paulista de Pesquisa em Ensino de Química e Simpósio Mineiro de Educação Química). A partir desse levantamento, foram obtidos 162 documentos para análise, os resultados indicaram crescimento expressivo das publicações a partir de 2016, com destaque para a concentração de estudos no Brasil, especialmente na região Sudeste, e em países como Estados Unidos e Turquia. Observou-se predominância de investigações no ensino médio e superior, com ênfase em áreas como Físico-Química, Química Geral e Química Orgânica. As estratégias mais utilizadas foram práticas experimentais de caráter investigativo e questões sociocientíficas, embora ainda haja pouca diversidade metodológica. Do ponto de vista teórico, verificou-se a hegemonia do modelo de Toulmin, em alguns casos adaptado, mas com reduzida exploração de referenciais alternativos. Entre as implicações pedagógicas, destaca-se a contribuição da argumentação para a alfabetização científica, favorecendo a análise crítica e a tomada de decisões. Entretanto, ainda se observam aspectos pouco explorados relacionadas ao papel do professor na mediação das práticas argumentativas, à ampliação da diversidade de recursos didáticos empregados e ao aprofundamento das análises sobre os processos discursivos envolvidos na construção dos argumentos. Torna-se, portanto, necessário avançar em direções que contemplem maior pluralidade teórica, metodológica e institucional, de modo a potencializar seu caráter formativo e transformador no contexto educacional.