A pirodiversidade se aplica às florestas tropicais? Os efeitos dos incêndios sobre as taxocenoses e guildas tróficas das aves da Mata Atlântica
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Resumo
Pesquisas recentes destacam a variabilidade espacial e temporal inerente à dinâmica o fogo, oferecendo um mosaico de manchas florestais com diferentes estágios de sucessão, níveis de distúrbio e até novos ecossistemas (referidos como pirodiversidade). Para testar se esse fenômeno também ocorre na Mata Atlântica, realizamos levantamentos de aves em 15 paisagens na Mata Atlântica do sudeste do Brasil. Selecionadas de modo a formar um gradiente de pirodiversidade e cobertura de refúgios de fogo. Nosso estudo examinou a influência da pirodiversidade na riqueza de espécies de guildas de aves e se a cobertura de refúgios florestais poderia influenciar essa relação. Utilizamos modelos lineares generalizados mistos para examinarmos as relações entre pirodiversidade, cobertura de refúgios de fogo e riqueza de espécies em guildas de aves. Nossos resultados destacaram a importância da cobertura de refúgios de fogo como um fator crucial para a riqueza de espécies nas principais guildas, abrangendo espécies onívoras, insetívoras e frugívoras. O estudo revelou interações antagônicas entre a cobertura de refúgios de fogo e a pirodiversidade nas guildas onívora e frugívora, sugerindo que o impacto positivo da cobertura de refúgios de fogo pode diminuir sob níveis mais altos de pirodiversidade. Consequentemente, embora alta pirodiversidade possa aumentar a diversidade de habitats, uma cobertura insuficiente de refúgios de fogo pode reduzir seus benefícios para certas espécies, resultando em menor riqueza de espécies nas paisagens afetadas. Nosso trabalho também demonstrou sensibilidade dos insetívoros de sobosque que são afetados diretamente pelos incêndios. Essas aves possuem pouca mobilidade, são territorialistas e buscam seus recursos e refúgios próximo ao solo, onde o fogo em qualquer magnitude atinge diretamente. Por fim, esperávamos que os insetívoros de tronco fossem beneficiados pelos incêndios o que não ocorreu. Compreender essas dinâmicas em ecossistemas sensíveis ao fogo é fundamental para a conservação da biodiversidade e resiliência ecológica, especialmente considerando que 19% da riqueza de espécies, incluindo espécies ameaçadas e endêmicas com distribuições restritas, foram exclusivas de manchas florestais não queimadas. Assim, pela compreensão da complexa interação entre essas variáveis, podemos propor planos de manejo e de contenção dos incêndios para atenuar ou sanar os efeitos dos incêndios e criar estratégias de conservação de espécies sensíveis e seus habitats.