Síntese e avaliação biológica de derivados azólicos do eugenol: contribuição na busca de novos agentes tripanossomicidas

Nenhuma Miniatura disponível

Data

2024-08-27

Título da Revista

ISSN da Revista

Título de Volume

Editor


Resumo

A doença de Chagas, causada pelo geneticamente diverso protozoário parasito Trypanosoma cruzi, está amplamente distribuída na América Latina, com elevada morbimortalidade, e tem se disseminado em países não endêmicos. Somente dois fármacos são aprovados para o seu tratamento, com atividade limitada, regimes terapêuticos prolongados e baixa adesão devido à graves efeitos adversos. Entre os principais fármacos em estudo para este propósito encontra se a classe de fármacos azólicos, extremamente ativos em estudos in vitro e in vivo durante o tratamento, mas ainda incapazes de levar à eliminação sustentada do parasito em modelos animais e estudos clínicos. O eugenol é um fenilpropanoide natural ativo contra T. cruzi com propriedades antimicrobianas, possui estrutura promissora para o desenvolvimento de derivados potencialmente ativos contra T. cruzi. A técnica de hibridização molecular é uma aliada para este proposito e foi utilizada para a obtenção de híbridos inéditos contra o protozoário T. cruzi. Foram planejados dezoito híbridos entre subunidades farmacofóricas de azois e fenilpropanoides, previamente validados quanto aos parâmetros farmacocinéticos ideais para fármacos, como potenciais inibidores da biossíntese de ergosterol através da interferência com TcCYP51. Seu plano sintético foi construído a partir de análise retrossintética e definição de rota sintética partindo do eugenol, por nitração aromática e/ou O-alquilação, para obter cinco derivados. A partir desses fenilpropanoides foram sintetizados seis epóxidos utilizando ácido m-cloroperbenzóico, seguido de suas aberturas com nucleófilos, como imidazol, 1,2,4-triazol e azida de sódio. Isso levou a obtenção de doze híbridos e cinco intermediários de azida, posteriormente convertidos em híbridos com a subunidade 1,2,3-triazol por reação de cicloadição polar. A obtenção de dezessete híbridos, caracterizados por técnicas espectroscópicas e espectrométricas, permitiu identificar seu baixo potencial de toxicidade até 200 µg.mL-1 em estudos de viabilidade celular in vitro com resazurina frente a células Vero e H9c2 por microdiluição seriada. Os dezessete híbridos foram avaliados por microscopia em ensaio de microdiluição seriada contra formas clinicamente relevantes de T. cruzi cepa Y, sendo inativos contra formas amastigotas. Curiosamente, dois deles foram ativos contra formas tripomastigotas, verificado por microscopia em câmara de Neubauer. Sendo os híbridos misturas racêmicas de enantiômeros, o mais ativo, com EC50 de 7,2 µmol.L-1 e IS de 145, foi resolvido em suas formas enantiomericamente puras por cromatografia líquida de alta eficiência com coluna preenchida com fase estacionária quiral fundamentada em celulose. Os enantiômeros isolados, com excesso enantiomérico maior que 99%, demonstraram inespecificidade entre si, com EC50 em torno de 20 µmol.L-1, de forma que sua resolução não deve ser essencial para atividade. Esses resultados contra formas tripomastigotas chamaram atenção pela possibilidade de o híbrido mais ativo atuar por mecanismo de ação diferente do planejado. Assim, observa-se que o planejamento de híbridos entre eugenol e azois foi uma estratégia de sucesso com identificação de híbridos com baixo potencial de toxicidade e até 25 vezes mais ativo que seu precursor, o eugenol. Além disso, a possibilidade de ação através de um novo mecanismo traz a relevante importância desse desenvolvimento e mais estudos serão necessários para confirmar essa atividade.


Palavras-chave

Citação