Profissionais de enfermagem como segunda vítima em eventos adversos: vivências de enfermeiros hospitalares na função gerencial
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Resumo
Os profissionais de enfermagem, por sua atuação direta na assistência, apresentam maior vulnerabilidade à ocorrência de eventos adversos. A vivência desses incidentes pode gerar impactos emocionais e temor de sanções disciplinares ou legais, configurando o fenômeno da “Segunda Vítima”. Nesse contexto, enfermeiros que ocupam funções de liderança exercem papel estratégico na consolidação da cultura de segurança do paciente. Objetivou-se analisar a vivência dos enfermeiros na função gerencial em instituições hospitalares face aos cuidados aos profissionais de enfermagem como segunda vítima de eventos adversos. Estudo descritivo e analítico, de abordagem qualitativa, fundamentado no referencial teórico-metodológico da hermenêutica-dialética. Após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa, foi realizada a coleta de dados, entre outubro de 2024 e março de 2025, em ambiente virtual, por meio da plataforma Google Meet, e consistiu em entrevista única por participante. Foram 11 enfermeiras atuantes em funções gerenciais em instituições hospitalares, selecionadas por meio da técnica de amostragem snowball. A entrevista semiestruturada foi norteada por um instrumento elaborado pelas autoras, composto por um questionário de caracterização pessoal e profissional e por duas questões abertas, gravadas e posteriormente transcritas. Os dados de caracterização pessoal e profissional foram apresentados em tabelas por meio da estatística descritiva e para a organização e análise dos dados oriundos da entrevista utilizou-se a análise temática reflexiva. Adotou-se como fundamentação teórica a abordagem “TRUST: The 5 Right of the Second Victim”. As participantes eram todas do sexo feminino, na faixa etária de 41 a 50 anos, em sua maioria casadas ou em união estável, distribuídas em dois estados e oito municípios. Possuíam de 15 a 20 anos de experiência na enfermagem, com mais de seis anos de atuação na instituição e na função ou cargo gerencial atual, destacando-se nos cargos de enfermeira responsável técnica e enfermeira de qualidade e segurança. A análise temática reflexiva possibilitou a definição de três temas: “Eventos adversos e a interface com os profissionais de enfermagem como segunda vítima”, “Cultura organizacional, gestão e liderança e a interface com os profissionais de enfermagem como segunda vítima de eventos adversos” e “Ações estratégicas de apoio aos profissionais de enfermagem como segunda vítima de eventos adversos”. No primeiro tema, evidenciou-se a compreensão do conceito e da complexidade que envolve a segunda vítima ainda incipientes. No segundo, apreendeu-se que a cultura institucional, os modelos de gestão e as práticas de liderança influenciam diretamente na condução dos eventos adversos e na forma como a segunda vítima vivencia essa experiência. Por fim, no terceiro tema identificou-se que as iniciativas de apoio permanecem pontuais e pouco institucionalizadas e reforçou a importância de ações preventivas voltadas à redução dos incidentes. Conclui-se que, mesmo com o reconhecimento da natureza sistêmica dos eventos, a cultura punitiva ainda persiste em muitos contextos. As ações estratégicas institucionais constituem desafio para a realidade vivenciada, o que reforça a necessidade de programas estruturados de suporte à segunda vítima.
