Morder para manipular: o papel da boca na exploração de objetos em infantes de Sapajus libidinosus
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Resumo
A exploração de objetos é fundamental no desenvolvimento cognitivo, perceptivo e motor de primatas. Durante a infância, os primatas tipicamente usam as mãos em conjunto com a boca para manipular objetos. O uso da boca durante a exploração de objetos constitui uma via inicial de interação com o ambiente, permitindo a diferenciação de propriedades físicas dos objetos antes do refinamento do controle manual. No entanto, poucos estudos abordaram o uso da exploração oral durante a infância em primatas não humanos. Neste estudo investigamos o uso da boca na exploração de objetos por quatro infantes selvagens de macacos-prego (Sapajus libidinosus) que vivem na Fazendo Boa Vista, uma área de ecótono entre cerrado e caatinga no Piauí. Para tanto, analisamos dados comportamentais codificados a partir de gravações animal-focal destes infantes, acompanhados do nascimento até os seis meses de idade. Analisamos a exploração oral, considerando diferentes categorias de objetos que foram manipulados e levados à boca. Hipotetizamos que a exploração oral seria, inicialmente, indiscriminada, tornando-se progressivamente seletiva com a idade. A exploração e o uso da boca surgiram no segundo mês de vida e foi empregada para diferentes tipos de objetos. Um Modelo Linear Generalizado (GLM) binomial revelou que a probabilidade de exploração oral foi significativamente maior em episódios envolvendo galhos, comparados a folhas, e foi fortemente predita pela duração do episódio. A idade, por si só, não foi um preditor significativo no modelo. Contudo, análises descritivas mostraram uma mudança no padrão de uso da boca, com uma proporção crescente de exploração oral direcionada a frutos em detrimento de outros objetos ao longo dos meses, corroborando nossa hipótese que os infantes passam a direcionar a exploração oral a objetos específicos, como frutos.
